domingo, 23 de junio de 2013
Relato de Swai Roger, companheiro brasiliense sobre a manifestação de quinta-feira
Vou
falar o que eu vi ontem: ainda que tivesse um grupo muito pequeno
segurando um pôster escrito "redução da maioridade pra 15 anos", me
pareceu que era uma franca minoria. Tanto que eles estavam virados no
sentido contrário da marcha, como se estivessem protestando contra a
mesma. Havia uma marcha indígena. Fiquei atento à reação do público,
pois sei que a questão índigena é divisora, pessoas mal
informadas não apoiam. Pois as reações de apoio foram muitas, e
espontâneas. Sabe o que acho? A maioria das pessoas que estavam lá,
estavam querendo uma formação. Parece que queriam ver, aprender alguma
coisa. Querendo sair de uma espécie de limbo das opiniões. Procuravam
uma opinião pra si! Muita gente contra o Feliciano. O movimento LGBT
tava expressivo. A ANEL, que está conseguindo retirar o movimento
estudantil do fisiologismo, também. Tinha o pessoal da saúde. Ganhei
mascarazinha. Não acho que foi uma manifestação cooptada. Sim, tenho a
sensação de que, mais que um acontecimento político, foi um
acontecimento cibernético... como chamam? Ah, flashmob. Teve um tanto
disso, e outro tanto de micarê. Mas isso não neutraliza o lado político,
na minha opinião. Eu continuaria indo, com o firme intuito de politizar
mais as manifestações. Defendo que se levem bandeiras, de partidos ou
de qualquer outro movimento. Pretas e vermelhas, de preferência, pra
mostrar que tem muita gente que não tá acordando agora. Deixa a galera
da direita (assumam-se ou não como tais) ir, e vamos ver quem dá o tom.
Acho que nós daremos, pelo que vi ontem. De qualquer forma, só de ver o
Eixo Monumental fechado, em dia e horário não previstos, fiquei feliz.
Virou sim um espaço pra sociabilidades. Bem, numa cidade onde as pessoas
não conversam no ônibus e que tem a maior taxa de suicídio do país,
isso pra mim já é democracia participativa. É um fato político sim.
Claro, as pessoas realmente oprimidas estavam muito, mas muito longe de
tudo isso. Voltando pra casa de ônibus lotado pra acordar no dia
seguinte, por exemplo. Ainda assim, sempre dei aula na periferia, e vi
um (!) aluno meu por lá. A PM dispersou a multidão quando quis, às
centenas, com gás lacrimogênio. Fomos tocados como verdadeiras
ovelhinhas. Afinal, se boa parte das pessoas estavam lá meio que
"procurando uma ideologia pra viver" (pra retomar Cazuza), elas não
iriam enfrentar a PM em função de algo que nem encontraram pra valer.
Sim, tem um grupo partidário que acho que prevaleceu, a galera verde
aguado da Marina. Se não me engano, vi posters de apoio a ela e não
houve hostilidade. Muito sintomático. Por sinal, pessoalmente é isso que
me pareceu. Tudo aguado. Mas isso é Brasília. Na maior parte dos
protestos contra o Feliciano também tinha essa impressão. Acho que a
galera LGBT é quem mais botou "cores" nesse guache. E espero que a
galera de partidos não se acanhe mais, simplesmente por exercer um
direito histórico conquistado com sangue, literalmente (eu cá não tenho
partido, pelo menos não ainda). Não havia movimentos negros, pelo menos
não vi. Também não vi o povo de santo. Impressões de quem ficou no lado
que desce do eixo monumental, e nem desceu pro gramado, porque o queria
mesmo era assistir a tudo de camarote...
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