jueves, 5 de mayo de 2011

Anarquia Futebol Clube

Bueno, tras mucho tiempo sin publicar nada, me dio la gana publicar este reportaje de Carta Capital (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/anarquia-futebol-clube)

Ah, el site de la gente de Autônomos es www.autonomosfc.com.br

Anarquia Futebol Clube



Time de futebol amador desmonta hierarquia, escala jogadores como técnicos ou dirigentes, e faz o esporte voltar às origens lúdicas na várzea de SP. Por Leonardo Calvano. Foto: Raphael Sanz
Sábado à tarde em São Paulo. O cenário: o campo de futebol amador do Baruel, tradicional time de várzea da Casa Verde, Zona Norte, um dos poucos que ainda resistem à especulação imobiliária da capital paulista. Em campo, o Autônomos FC enfrentava o EC Juva, em duelo de preparação para os Jogos da Cidade, evento esportivo organizado pela prefeitura.
À beira do gramado de terra batida, um dos integrantes do Autônomos vestia uma camisa da seleção argentina e tentava aos berros orientar os companheiros sobre a marcação. Ao contrário do que pode parecer, o sujeito com a camisa argentina não era o técnico, pois no Autônomos FC não existe técnico nem capitão. O time é administrado de forma coletiva e sem divisões hierárquicas; todos opinam e decidem em conjunto o que fazer em campo. Jovens cabeludos, tatuados e usando piercing e alargadores, alguns franzinos e outros fora de forma, vestiam uniforme preto, branco e vermelho, com o escudo que remetia à letra “A”, símbolo do anarquismo. São músicos, jornalistas, ativistas, professores e profissionais de diversas áreas, formados em universidades conceituadas ou não.
A mistura naquele dia não deu certo: o time perdeu para o EC Juve por 3 a 0. No entanto, o resultado não é objetivo final, e sim resgatar a paixão pelo futebol de maneira mais democrática possível. Assim surgiu o Autônomos FC durante o Carnaval de 2006, em um encontro anual em Belo Horizonte. Danilo Cajazeira, o Mandioca, que ajudava a organizar em São Paulo a Copa Autonomia (torneio de futsal sem juízes e aberto a todos), e Maurício Noznica, integrante do Ativismo ABC (coletivo que defende a autogestão em todas as esferas) pensaram em montar um time após um debate sobre torcida uniformizada e política. Convidaram times da Copa Autonomia para fundar uma única equipe.
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Ainda existe identidade no futebol

Hoje, são mais de 75 membros divididos em dois times de futebol de campo masculino (A e B) e uma equipe de futsal feminino. “Queríamos antes de tudo nos divertir, independentemente de ter técnica, idade ou habilidade. E de fazer tudo de forma horizontal, sem ninguém mandando em ninguém. Nunca fomos um time anarquista em termos de posicionamento político, mas estes valores sempre foram os condutores da organização interna do time”, conta Cajazeira. Além de futebol, o Autônomos também promove palestras, debates, música, além de intercâmbio político, cultural e social.
Quem faz o quê e quando?

Time não tem técnico nem capitão. Ou melhor: todos são técnicos e todos são capitães. Foto: Raphael Sanz
A divisão das funções dos integrantes da equipe está ligada às possibilidades de cada um, sejam elas financeiras, de tempo ou disposição. Cajazeira organiza o grupo fora das quatro linhas. “Ele daria uma aula para qualquer cartola profissional por aí”, conta Gabriel Brito, um dos integrantes. “Arrecadamos dinheiro internamente, cada um doa o que pode. Vendemos material do time. Também fazemos festas, rifas e todas as coisas que todo time de várzea está cansado de fazer para existir num país em que o suporte para o esporte amador é próximo de zero”, explica Brito.
“O Maurício procura organizar dentro de campo, mas também é preciso alguém de fora. Então o técnico acaba sendo alguém que está contundido ou na reserva”. Essa função, segundo ele, é encarada da mesma forma que a de lateral-direito ou de ponta-esquerda. “O técnico não manda, ele organiza e sempre escuta todo mundo”, afirma. “Existe muito time de várzea bom que não tem técnico. O problema é que no profissional tiraram a autonomia do jogador e o tratam como criança”. Também não existe uma seleção de jogadores, é só chegar e ir se adaptando ao time. “Tem gente que antes do Auto nunca tinha jogado futebol de campo na vida”.
Além de promover atividades ligadas ao futebol, eles participam do Movimento pelo Passe Livre (MPL) e organizam eventos junto à Frente de Luta por Moradia (MFL) e à Associação Nacional dos Torcedores. “Também temos planos de começar um time com crianças de rua e recentemente fizemos uma campanha de arrecadação para compra e distribuição de cobertores aos moradores de rua”, completa.
Uma sede social e cultural
O Autônomos FC recentemente criou um novo espaço que servirá também com sede do coletivo. A Casa Mafalda – nome dado em homenagem a personagem do cartunista argentino Quino e uma menção ao bairro Chácara Mafalda, que abrigava o primeiro campo do time – funciona no Estúdio Fábrica Lapa, Zona Oeste e pretende ir além do futebol. “Pretendemos organizar tudo o que for de acordo com nossos princípios. Festas, debates, palestras, exposições e oficinas. Queremos um lugar de convivência, sem individualismo e sem aquela relação comercial como na maioria dos espaços”. Além disso, atividades com a comunidade já estão sendo planejadas. “Já recebemos propostas de aulas de teatro e yoga”, completa Cajazeira.
O grupo se mobilizou nas redes sociais para arrecadar a verba necessária para a construção da sede e do espaço cultural. Vale ressaltar que, enquanto muitos discutem a transparência das contas do dinheiro usado pela organização da Copa do Mundo de 2014, em seu site o grupo declara todos os valores que entram e saem.
Experiência no exterior
No ano passado, o Autonômos FC viveu sua primeira experiência internacional na Copa do Mundo Alternativa, em Yorkshire, Inglaterra, após convite dos Easton Cowboys&Cowgirls, time fundado em 1992 dentro do mesmo conceito. “Eles viraram nossos parceiros. Já jogaram em Chiapas, no México, com os Zapatistas, na Palestina e na Índia, e fazem parte de uma extensa rede de futebol alternativo, muito comum na Europa e nos Estados Unidos”, conta Cajazeira. “Esse campeonato funciona dentro do princípio ‘faça você mesmo’, sem patrocínios e nem empresas terceirizadas. Os próprios times organizam a tabela, um faz a arbitragem do outro e, durante as noites tem festa, música e muito bate-papo.”
Para muitos integrantes que vieram do movimento punk e anarquista, a experiência foi ainda mais rica, já que eles se hospedaram em squats ingleses, as famosas casas ocupadas. “Passamos 10 dias em um. Aprendemos demais sobre organização, enfrentamento com o estado e a polícia, e sobre internacionalismo. Trouxemos muitas coisas para nossas práticas, tanto dentro como fora de campo”.
O próximo compromisso no exterior será em Jesús Maria, na Argentina, em 2012. A Copa América Alternativa surgiu da parceria com o time local Clube Atlético Social y Deportivo Ernesto Che Guevara, fundado há quatro anos com as mesmas ideias e ensinamentos socialistas propagados pelo líder revolucionário, que viveu próximo de lá, em Córdoba. “A ideia é integrar através do futebol crianças e jovens de todas as classes sociais para ajudar na formação delas como pessoas, reforçando valores pregados por Che, como solidariedade e dignidade”, contou Mónica Nielsen, presidente do clube de Córdoba, uma das sedes da Copa América.
Conheço o site da equipe: www.autonomosfc.com.br

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