sábado, 11 de mayo de 2013

Nota sobre a falta de interesse no Brasil pela condenação por genocídio de Ríos Montt em Guatemala

Danilo de Assis Clímaco

Estranho que uma notícia tão importante, a de que por primeira vez um ex-chefe de estado seja condenado por genocídio (contra 1.771 pessoas do povo Maya Ixil, ainda que as vítimas mortais desse povo superam as 10.000) quase não foi noticiada no Brasil. Mais grave se a gente pensa que o país está passando por uma comissão da verdade. Nem nos meios ‘mais a esquerda’ como Brasil de Fato, Carta Capital ou Conversa Afiada se noticiou. Esta falta de interesse tem tudo a ver com o fato das vítimas serem indígenas. Se fosse o Videla ou o Pinochet, que mataram (além de pobres, ‘negros’, ‘índios’ e camponeses, claro) muitos ‘brancos’, operários sindicalizados, universitários, de classe média, todo o julgamento do ex-ditador teria sido intensamente noticiado pelos meios das ‘esquerdas’ e inclusive pelos da direita. 

Mujer Ixil jura antes de prestar depoimento.
No canto direito, o ex-ditador. Foto: Elías Rodríguez
Tudo isso é ainda mais grave na medida em que nos evidencia o quão pouco as esquerdas brasileiras mais institucionalizadas – ao contrário de alguns setores nos Andes, na América Central e no México – se preocuparam em refletir e lutar contra o período de reprimarização de nossa economia, provocado pela crise do capital como tal, e o que isso significa em termos de expropriação e deterioro de terra dos povos indígenas (e camponeses). Os ruralistas no Brasil alcança com a Dilma seu maior nível de poder nos últimos 10 anos, razão pela qual o número de demarcação de terras indígenas é o menor de nossa história recente.

Convém lembrar que recentemente foi descoberto um relatório de 7.000 páginas sobre a violência contra os povos indígenas durante nosso período militar. Que o exemplo guatemalteco seja mais um motivo para que o genocídio dos povos indígenas que habitam ou habitaram o país não fique impune.

Abaixo deixo uma das poucas notícias em português ao respeito desta grande vitória dos povos indígenas de Guatemala, das Américas, especial o Maya Ixil. Está em um jornal de Portugal: 

Antigo ditador da Guatemala condenado a 80 anos de prisão

O antigo ditador da Guatemala José Efraín Ríos Montt foi condenado a um total de 80 anos de cadeia, 50 anos dos quais pelo massacre de povos indígenas entre 1982 e 1983.

O antigo ditador guatemalteco, Ríos Montt, condenado a 80 anos de prisão por genocídio e crimes de guerra, insistiu na sua inocência e anunciou um recurso da sentença que considera "ilegal" para "responder a um espetáculo político internacional".

"É um espetáculo político internacional que afeta a alma e o coração do povo guatemalteco, mas nós temos paz porque nunca derramamos ou nunca manchamos as nossas mãos de sangue dos nossos irmãos", declarou Ríos Montt aos jornalistas antes de ser transferido para um quartel militar que funciona como prisão.

Em prisão domiciliária, Ríos Montt viu o Tribunal Penal anular essa medida de coação e ordenar a sua prisão efetiva depois de conhecida a condenação.

Ríos Montt, 86 anos, governou a Guatemala num dos períodos mais violentos da longa guerra civil, que durou entre 1960 e 1996, sendo agora condenado por genocídio.

O antigo general começou a ser julgado em meados de março pela morte de cerca de 1800 indígenas da etnia ixil, cometidos na região de Quiche, no norte da Guatemala, epicentro da guerra civil.

Cerca de 500 pessoas marcaram presença na primeira audiência do julgamento, a 20 de março, que durou cerca de cinco horas, durante a qual Efraín Ríos Montt reiterou que não tinha conhecimento de que o Exército estava a levar a cabo massacres.

Este é o primeiro julgamento por genocídio que decorre da guerra civil da Guatemala, a qual opôs guerrilhas de esquerda e forças governamentais e terminou em 1996, com um balanço de 200 mil mortos ou desaparecidos, segundo dados das Nações Unidas.

Além dos 50 anos por genocídio, Rios Montt foi ainda condenado a outros 30 anos por crimes contra a Humanidade e crimes de guerra.

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